sábado, 25 de setembro de 2010

Perguntas franzinas e respostas caducas


Por Priscilla Rios

A certeza das coisas nos faz sentir seguros, confiantes, mas saber para onde o vento sopra requer vivência e vivência não tem nada a ver com estabilidade. Olhando de dentro para fora, às vezes existe a ilusão de que todo mundo tem as respostas a indagações básicas (porém nada simples), menos você.

São indagações profundas como: 'o que eu quero da vida', 'qual a minha missão nesse planeta', 'o que me faz genuinamente feliz?' Incomodados com a ausência de respostas no presente, começamos a pirar no futuro mais que perfeito com questões como 'o que será de mim daqui 5, 10 ou 20 anos?'

Essas perguntas no início incomodam, vez ou outra tiram o sono, um dia viram lágrimas e no outro são queixas. Elas até parecem insignificantes quando ditas em voz alta, o que te faz sentir ainda menor e mais sem propósito.

O que fazer?? Sentar em cima das perguntas e fingir que elas não existem ou levar elas para a cama comigo e compartilha-las com minha insônia. O maior curioso é que por trás dessa máscara de inimigas do bem estar e do atalho para a satisfação e plenitude, essas indagações são nossas amigas. Elas nos levam a refletir sobre nós mesmos, desbancando-nos do alto do nosso conformismo. São elas que nos empurram para frente, que nos forçam a tomar uma atitude, a fazer escolhas e decidir nossos caminhos pessoais e profissionais. Nossas aliadas no progresso e na evolução mental, física e espiritual.

É claro que o comodismo é pesado o bastante para tentar se impor e ele faz “picuinha” na nossa cabeça nos colocando contra nossas indagações. As vemos como vilãs que não nos deixam ter um minuto de descanso e que nos colocam o tempo todo numa sinuca de bico. O esperto do comodismo também nos faz sentir incompetentes em colher as respostas do 'pé da sabedoria' (uma árvore frondosa cujo fruto não é para o nosso bico).

Para nosso alento, seguimos nossos caminhos incertos, certos de que a lenda de quanto mais velhos e encurvados ficamos por fora, mais altos e fortes ficamos por dentro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Saga das Grávidas - parte 7 – Aos 28 e 9 meses

Por Priscilla Rios

Chegar aos 28 com a benção de exibir por aí uma barriga de 9 meses é sem dúvida a realização de um sonho para mim. Claro que o milagre da vida segue acompanhado de uma responsabilidade 10 kg mais pesada: tomar decisões de gente grande a partir de agora, afinal definitivamente não sou mais a criança da casa. Se é bom ser adulto?? Ainda estou experimentando. Mas apesar da consequência dos meus erros daqui para frente não refletir somente em minha vida, sinto que o sucesso também será muito mais recompensador.

Como mãe de primeira viagem, ainda estou elaborando a minha receita de bolo perfeita... as linhas sinuosas do imprevisto, o esforço dobrado, os sacrifícios feitos sem cobrar nada em troca e as gratas surpresas da maternidade serão certamente o recheio dos próximos 30 bolos em que eu acender velinhas na minha vida. Lógico, quem as apaga não sou mais eu.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

“É preciso saber viver........ toda pedra no caminho você pode retirar...”


Imagem: Josias de Souza

Por Priscilla Rios

Ouvi uma vez: “uma pessoa só tira sua paz se você permitir isso”. Quando éramos crianças ou adolescentes não tínhamos vergonha de dizer NÃO. Pelo contrário, dizíamos não para tudo, sem titubear. Depois de virar gente grande (adultos rsrsrsrs) nos apoiamos em desculpas como “aceitei por educação” e dizemos SIM para coisas que queremos dizer não. Talvez por sabermos que dizer não significa desapontar algumas pessoas, ou quem sabe porque dizer não pode nos rotular como incompetentes. Acabamos pegando desde um trabalho em que não vamos lucrar seja em conhecimento seja em dinheiro, ou mesmo permitindo abusos e ofensas de gente mal educada. Dê uma basta nisso. Essa tolerância permissiva diminui e te distancia do seu potencial. Acaba sendo um atalho para nos transformarmos em um puxa saco de primeira. Ainda temos a capacidade de posar de vítima da situação, porque você não podia dizer não para 'seja lá quem pediu'. É preciso ter em mente que se está recusando o pedido e não a pessoa. Ponha as coisas na balança, veja o que realmente vale a pena e aprenda a viver para você. Se colocar em primeiro lugar não é egoísmo é obrigação.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A Saga das Grávidas – parte 6 – A comunidade do bolinha

Reprodução: www.cartoonstock.com

Por Priscilla Rios

Eu sabia que ela existia, mas não tinha consciência até entrar ingressar nela. As mulheres grávidas parecem pertencer a uma comunidade - quase sagrada e algumas até santificadas pelos maridos – com direitos, deveres e tratamentos completamente diferentes do restante do mundo. Nesse final do terceiro trimestre posso dizer enquanto a barriga me permite: que falta vão me fazer os caixas especiais do supermercado, furar a fila do banco sem peso na consciência, ganhar lugar no ônibus lotado, andar no lugar mais espaçoso do carro, poder repetir quanto quiser as bobeiras que eles dão no avião sem receber caras feias, e todo mundo no trabalho oferecer tudo o que está comendo (medo de terçol rsrsrsrs), ganhar um sorriso e o clássico carinho na barriga onde quer que eu vá, fazer drenagem linfática de graça pela Unimed e ganhar presentes por 9 meses. É, os benefícios da função já se provaram melhores que a remuneração.

Parece que a conversa só é de igual para igual entre grávidas, talvez por isso a gente sempre torce para engravidar ao mesmo tempo que uma grande amiga. Nada como compartilhar as interrogações, exclamações, namorar as mesmas vitrines e ter 9 meses para repassar assuntos profundos e supérfluos sobre o mesmo tema. É a tal da formação da vida, cujas mães de segunda viagem são doutoras.

E quem é mãe de um é mãe de todos.. está sempre reparando em como os outros educam ou deseducam os filhos. Uma simples espera no pediatra é um remoer de julgamento ou uma troca de elogios.. “como está lindo, como está grande, como é educadinho...”. Mas se está grávida, a primeira lei da comunidade é: não reparar no terrível comportamento do filho alheio senão seu filho pode nascer igual. Aí é um tal de bater na madeira e Deus me livre pra lá, Deus me livre pra cá. Na terra de faz de conta da comunidade do bolinha todos querem parir príncipes. Sapos cururu só na lagoa.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Saga das Grávidas – parte 5 – No cumprimento do dever


Por Priscilla Rios

Já são 8 meses de mimos e carinhos na barriga. A barriga aliás há tempos virou propriedade pública, quem chega bota a mão, mas eu não tenho nada do que reclamar, a gravidez acaba mesmo sendo o assunto da manhã, tarde e noite entre conhecidos e, especialmente, entre desconhecidos. Quem vê na rua sempre puxa assunto com interrogações da casa: o neném é pra quando?? É menino ou menina?? Já escolheu o nome??

Na sequência vem os conselhos abotoados de exclamações.. “Sabe que o significado do nome é importante né, reflete na personalidade!!”, “toma bastante água que facilita o parto!!”, “dorme do lado esquerdo que melhora a circulação do sangue para o neném!”, “já lavou as roupinhas da maternidade? Tem que deixar tudo pronto a partir do sétimo mês, vixe aí qualquer hora é hora!!”, “já passou as roupinhas, sabe que tem que passar por dentro né?.. É para matar os germes!!”, “Sabe que tem que usar sabão de coco né e se puder lavar na mão é melhor viu!!”...

A lista de coisas para fazer segue aumentando junto com a barriga. Barriga é também outro assunto que dá muito pano pra manga nas rodinhas sociais: “tem passado bastante óleo?”, “antes de entrar no chuveiro sabe que tem que passar óleo né?”, “e depois do banho também, óleo e creme que é para não dar estria”. A gente vai ficando untada de conselhos e depois quer passar tudo adiante quando encontra alguém no comecinho da gestação.. o círculo é mesmo vicioso. Parece que se a gente não aconselhar não cumpriu com o dever. E venhamos e convenhamos, seja o que for, nada como por a cabeça e a barriga no travesseiro com o sentimento de missão cumprida.