Foto: FCunha
Por Priscilla Rios
Estamos na semana em que o mundo enche as canecas para brindar a queda de 1378 km de comunismo na Alemanha. Naquela época a Berlim oriental ditava ordens e atrasava o globo. Fiquei impressionada ao ler na reportagem de Diogo Schelp que as ordens fardadas valiam até para o relógio biológico das crianças. Elas tinham que ir ao banheiro, todas, ao mesmo tempo. E se a noção de humanismo era torpe, a sua vizinha, a economia, não andava lá essas coisas e também era meio cega e surda.
Só nos tempos de RDA (República Democrática da Alemanha - leia-se comunismo) um carro velho valia mais que o recém saído da fábrica da mesma marca. E os compradores como que ansiando um visto para a liberdade, esperavam 15 anos na fila para finalmente estacionar o possante na garagem (eu me pergunto de que adiantava ter um possante, se nem podia cruzar os limites do muro?). E se estragasse uma peça do carango daí só na próxima encarnação pra vê-la chegar. Mas claro que esse era o menor dos problemas em terras esquerdistas.
Hoje, lendo a reportagem percebo que as cicatrizes no chão de Berlim (como bem observou Schelp) apontando para onde seguia o muro, são feridas concretadas pelo tempo. O frescor das novas gerações não carregam mais o peso do muro nas costas nem a divisão ideológica do muro na consciência.
O muro só não foi amputado dos programas humorísticos, insistentes no estereótipo de que a mi$éria oriental ainda engorda ao lado e divide planos, curvas e superfícies com a rica Berlim do ocidente.