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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Meu pinguinho de gente


Por Priscilla Rios

Nasceu. Tudo mudou. Os horários, as cores, as roupas, a alimentação, o tempo. O ar cheira a flor de laranjeira. O medo transpira bravura. O corte do cordão umbilical é só o primeiro laço que sentimos apertar no peito. E esse laço vai ficando mais justo no primeiro chororô, no primeiro sorriso, no primeiro bico, no primeiro segurar de dedos.

Seus olhos arregalados me dizem tudo o que sempre quis ouvir e seu bocejar traz uma paz que vai de uma porta a outra da casa. Se há chuva na janela, é poesia. Se há sol, é música. Há um novo sentido no revoar da cortina dançando com o vento e no orvalho que repousa na grama.

Sigo andando pela casa e meus passos já não pertencem a meus pés, caminho com o coração.

Cheiro a leite o dia todo e me orgulho de ser o seu perfume preferido.

Agora se respiro fundo é só pra você ouvir minha respiração e dormir melhor. O seu sono é a minha paz e o seu despertar é a minha força.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Saga das Grávidas - parte 7 – Aos 28 e 9 meses

Por Priscilla Rios

Chegar aos 28 com a benção de exibir por aí uma barriga de 9 meses é sem dúvida a realização de um sonho para mim. Claro que o milagre da vida segue acompanhado de uma responsabilidade 10 kg mais pesada: tomar decisões de gente grande a partir de agora, afinal definitivamente não sou mais a criança da casa. Se é bom ser adulto?? Ainda estou experimentando. Mas apesar da consequência dos meus erros daqui para frente não refletir somente em minha vida, sinto que o sucesso também será muito mais recompensador.

Como mãe de primeira viagem, ainda estou elaborando a minha receita de bolo perfeita... as linhas sinuosas do imprevisto, o esforço dobrado, os sacrifícios feitos sem cobrar nada em troca e as gratas surpresas da maternidade serão certamente o recheio dos próximos 30 bolos em que eu acender velinhas na minha vida. Lógico, quem as apaga não sou mais eu.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A Saga das Grávidas – parte 6 – A comunidade do bolinha

Reprodução: www.cartoonstock.com

Por Priscilla Rios

Eu sabia que ela existia, mas não tinha consciência até entrar ingressar nela. As mulheres grávidas parecem pertencer a uma comunidade - quase sagrada e algumas até santificadas pelos maridos – com direitos, deveres e tratamentos completamente diferentes do restante do mundo. Nesse final do terceiro trimestre posso dizer enquanto a barriga me permite: que falta vão me fazer os caixas especiais do supermercado, furar a fila do banco sem peso na consciência, ganhar lugar no ônibus lotado, andar no lugar mais espaçoso do carro, poder repetir quanto quiser as bobeiras que eles dão no avião sem receber caras feias, e todo mundo no trabalho oferecer tudo o que está comendo (medo de terçol rsrsrsrs), ganhar um sorriso e o clássico carinho na barriga onde quer que eu vá, fazer drenagem linfática de graça pela Unimed e ganhar presentes por 9 meses. É, os benefícios da função já se provaram melhores que a remuneração.

Parece que a conversa só é de igual para igual entre grávidas, talvez por isso a gente sempre torce para engravidar ao mesmo tempo que uma grande amiga. Nada como compartilhar as interrogações, exclamações, namorar as mesmas vitrines e ter 9 meses para repassar assuntos profundos e supérfluos sobre o mesmo tema. É a tal da formação da vida, cujas mães de segunda viagem são doutoras.

E quem é mãe de um é mãe de todos.. está sempre reparando em como os outros educam ou deseducam os filhos. Uma simples espera no pediatra é um remoer de julgamento ou uma troca de elogios.. “como está lindo, como está grande, como é educadinho...”. Mas se está grávida, a primeira lei da comunidade é: não reparar no terrível comportamento do filho alheio senão seu filho pode nascer igual. Aí é um tal de bater na madeira e Deus me livre pra lá, Deus me livre pra cá. Na terra de faz de conta da comunidade do bolinha todos querem parir príncipes. Sapos cururu só na lagoa.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Saga das Grávidas – parte 5 – No cumprimento do dever


Por Priscilla Rios

Já são 8 meses de mimos e carinhos na barriga. A barriga aliás há tempos virou propriedade pública, quem chega bota a mão, mas eu não tenho nada do que reclamar, a gravidez acaba mesmo sendo o assunto da manhã, tarde e noite entre conhecidos e, especialmente, entre desconhecidos. Quem vê na rua sempre puxa assunto com interrogações da casa: o neném é pra quando?? É menino ou menina?? Já escolheu o nome??

Na sequência vem os conselhos abotoados de exclamações.. “Sabe que o significado do nome é importante né, reflete na personalidade!!”, “toma bastante água que facilita o parto!!”, “dorme do lado esquerdo que melhora a circulação do sangue para o neném!”, “já lavou as roupinhas da maternidade? Tem que deixar tudo pronto a partir do sétimo mês, vixe aí qualquer hora é hora!!”, “já passou as roupinhas, sabe que tem que passar por dentro né?.. É para matar os germes!!”, “Sabe que tem que usar sabão de coco né e se puder lavar na mão é melhor viu!!”...

A lista de coisas para fazer segue aumentando junto com a barriga. Barriga é também outro assunto que dá muito pano pra manga nas rodinhas sociais: “tem passado bastante óleo?”, “antes de entrar no chuveiro sabe que tem que passar óleo né?”, “e depois do banho também, óleo e creme que é para não dar estria”. A gente vai ficando untada de conselhos e depois quer passar tudo adiante quando encontra alguém no comecinho da gestação.. o círculo é mesmo vicioso. Parece que se a gente não aconselhar não cumpriu com o dever. E venhamos e convenhamos, seja o que for, nada como por a cabeça e a barriga no travesseiro com o sentimento de missão cumprida.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Saga das Grávidas – parte 4 – Força Motriz


Por Priscilla Rios

A minha vida está no sétimo mês, evoluindo aos poucos e rapidamente, assim mesmo contraditoriamente. Tenho construído pontes entre o egoísmo e a bondade, usado o atalho dos extremos com mais frequência do que costumo. Meu ponto de equilíbrio físico e emocional mudou eu diria uns 30cm, o tamanho do meu neném. Essas turbulências e calmarias, inquietudes e quietudes, loucura e tranquilidade plenas tem me feito sentir viva nesses 7 meses. Até porque contraditoriamente falando (tenho usado muito essa palavra ultimamente) acho que no auge da minha frenética vida emocional cheguei a conclusão que perdi o direito físico de morrer. O clichê “alguém depende de mim” virou realidade. E essa realidade me chuta literalmente, de manhã – tarde – noite, para um mundo de sonhos, onde fico fantasiando momentos que quero compartilhar com meu filho. E antes mesmo dele nascer noto que ganhei um franzir de testa. Movimento involuntário que normalmente aparece quando reflito sobre questões cruciais entre um xixi e outro. E assim como quem acha que pode resumir sete meses em um dia e em pouco mais de 15 linhas eu encerro esse texto. Coisa típica de mãe de primeira viagem, pensar que pode tudo – pelo meu filho agora vou bater no peito e encarar o mundo se preciso for – mas ao mesmo tempo continuar subindo numa cadeira toda vez que vê uma barata. E para não dar o gostinho doce da última palavra desse texto a barata, encerro com força motriz. Afinal a gente não pode parar.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Saga das Grávidas - parte 3 - Medos Sonoros


Por Priscilla Rios

Colocar uma pessoa nesse mundo oscila entre tatear a imensidão do desconhecido e suar frio o pavor da incapacidade. Será que vou conseguir ser o melhor de mim? Será que o melhor de mim basta? Será que terei o equilíbrio para medir palavras e projetar atitudes corretas? Saberei eu amar e educar sem corromper princípios nem substantivos?  

O mundo nesse mar de dúvidas não é mais singular para mim. Nesse momento sou dois. Penso por dois. E minhas prioridades estão em outra frequência. Quanto maior o meu silêncio a essas perguntas, mais alto os decibéis dos meus medos.

Primeiro filho? Help me Google!

terça-feira, 4 de maio de 2010

A Saga das Grávidas - parte 2 - 20 cm de paz


Por Priscilla Rios
Viver as coisas simples da vida, isso sim que é luxo.

Ficar de bobeira sentindo a plenitude da cabeça fresca, olhando os garnizés ciscando, o sabiá elaborando estratégias para quebrar a castanha, meu cachorro procurando o melhor lugar para enterrar seu tesouro, e de quebra ter a tranquilidade para ouvir o vento chegar de mansinho nas folhas da parreira de uva e embalar a rede.... Foi preciso chegar a exaustão para saborear tão intensamente essa paz.

Divagando um pouco (cá com os meus gerúndios foras da lei), pode ser que essa sensação de plenitude venha do momento “nave” em que estou vivendo, carregando 20 cm de vida dentro de mim. E quando sinto esses 20 cm mexendo chego a prender a respiração porque tudo para (pára – aos mais apegados) a minha volta. Ao mesmo tempo tudo ganha um “para que” = uma utilidade, uma razão.


Tenho seguido uma trilha de 9 meses rumo a felicidade, a emoção da chegada ainda é um mistério para mim. Como criança só sei o que me dizem que é. E poucas mães viajadas conseguem materializar em palavras a intensidade abstrata do sentimento pós parto. As descrições vagueiam em adjetivos batidos que não acham complementos à altura, as repetições tentam enfatizar o ineditismo do momento em que a nave se abre e ouve-se o primeiro choro. Tudo parece mesmo de outra dimensão. Por isso ando com os pés na lua, a cabeça nas nuvens e com um pequenino terráqueo a bordo.. lá dentro ele muda a marcha dos meus sonhos, planos e da minha definição de paz.

domingo, 11 de abril de 2010

A Saga das Grávidas – parte 1 - Acorda um prego quem não prega os olhos


Por Priscilla Rios

4h da manhã. Meus olhos não abrem nem com reza brava, mas seu eu não levantar o xixi vai ser na cama. Resisto mais um pouco para ganhar uns minutinhos de sono. A bexiga aperta e eu me rendo, levanto. Minutos depois me arrasto de volta e a boca seca exige que eu brinde a plenitude da bexiga vazia com um contraditório copo d´água. Deito. Lá vem a pressão de sempre: se eu não dormir em 15 minutos esse copo d´água pega um atalho pra bexiga de novo numa velocidade que só as grávidas conhecem. Aperto os olhos exigindo o sono sagrado de volta, mas nada prega os olhos. Na cabeça circula uma fila de coisas para fazer quando o garnizé cantar, seguido de uma ideia descabida: sair do quentinho da coberta e passar frio em busca de uma caneta, senão eu durmo em 20 minutos e a parte 1 dessa saga dorme comigo.