sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Grammar

Por Priscilla Rios

É impressionante a capacidade do ser humano de adjetivar seus fardos e conquistas. É a entrevista que foi foda e a viagem que foi massa. A catedral que era fora de sério, a estátua que era perfeita e que provavelmente foi foda de fazer 500 anos atrás. Assim a viagem vai ganhando ares apoteóticos de um momento distante, bom demais para ser verdade e audaciosamente inesquecível. Um espetáculo que a gente faz questão de enfeitar da forma que mais nos convêm, afinal somos os faixas-pretas do adjetivo, ou melhor os língua-preta do adjetivo.

Podemos estar em plena praça San Pietro em Roma, mas sublinhar que o chocolate quente cremosamente irresistível é que estava maravilhoso!

Ainda sim prefiro ser megalomaníaca por adjetivos do que ter gerúndios coçando na boca, se escondendo na falta de criatividade, divagando em círculos só para mostrar que algo estava acontecendo quando finalmente outra coisa aconteceu. É um péssimo hábito do gerúndio ficar esperando por um ponto final e dos adjetivadores banalizar a ênfase das coisas fodas e massas da vida.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Como você se pinta e borda?

Por Priscilla Rios

Vamos falar de exterior. E não precisa ir muito longe nesse trem. Quando você se vê por fora, a ideia de você reflete quem você É? (sim, estou perguntando..)

Para a alegria de muitos, eles nem sequer calculam a imagem que refletem... A maioria das vezes, essa imagem é contrária de como realmente SÃO ou de como se SENTEM. Para outros, entre a “ideia esculpida de si” e o “ser” há praticamente um continente de distância e, para o infortúnio deles, eles sabem disso como ninguém. Enlouquecem tentando alcançar um parâmetro razoável pintando algo entre o que são e o que gostariam de ser. A obra de arte final sai tão remendada como o coração.

O fato é, num primeiro momento, as pessoas (sejam amigos ou amores) se apaixonam pela IDEIA de você. Exatamente como você se pintou e bordou. E talvez aqueles momentos de fúria, mal humor, tédio e ironia lasciva – aquelas que te fazem explicar ao mundo que você estava fora de si – seja exatamente o momento mais cru de você. É claro que você continua sendo você quando bem humorado, mas se está apaixonado – venhamos e convenhamos - é um pouquinho mais bem humorado que o normal. Se está caindo de amores, o saco de paciência é 5 vezes maior.

Pintar e bordar aqui é, ao pé da letra, fazer arte. Você esculpe você. E talvez só não se empenhe em diminuir seus defeitos (aqueles que você conhece muito bem e que já desconstruíram relacionamentos) porque está sempre focado em construir novas qualidades. Não se culpe, ser artista é um talento nato. Antes de admitir a culpa, a gente sempre inventa uma história pra jogar a pedra no outro. É assim no serviço e é assim na vida pessoal. “O casamento acabou porque ele nunca cedeu”, “O chefe vomitava sapos e você os engolia (você não, a ideia de você. Você mesmo jamais faria isso!!)” “O garoto era legal, mas veio avançando o sinal (até rimou rsrsrsrs)”, “a amiga era ótima, mas te disse umas coisas horríveis (ou seriam verdades horríveis?)”. Em todas essas situações tem sempre um dedinho da ideia de você. Em algum momento você deixou transparecer algo que não era. Ok ok, não vai carregar a culpa do mundo nas costas. Mas entenda que as escolhas, ações e reações modificam o todo ao seu redor.

Se você critica quem só valoriza o exterior, mas gasta o limite do cartão de crédito em roupas – a ideia de você te contradiz o tempo todo. Se você critica os apressadinhos, mas dá todos os sinais para o avanço de sinal, não culpe o mundo por essa infração.

Faça uma leitura de si mesma. Saia da vitrine por um segundo. Encontre suas prioridades (você tem uma vida inteira pra errar o ponto e bordar de novo). Pare de pensar no que os outros vão pensar. Inevitavelmente alguns relacionamentos vão acabar, mas esteja certo que você foi 90% você. Tire a ideia da cabeça e pinte, sem falso moralismo, exatamente o que você sonhou.

O que você ganha com isso?? Pra ser curta e grossa: Um L bem grande. Amigos, amores, aventuras e toda uma vida muito mais próxima do seu IDEAL, do que da IDEIA. E, num trocadilho infame, você não faz ideia de como é se sentir em casa - mesmo a quilômetros de casa - por um minutinho que seja.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A porta está bem trancada??

Por Priscilla Rios

É preciso estar muito bem resolvido com o passado, porque ele sempre volta no pior e no melhor momento da sua vida. Se deixar a porta entreaberta, as emoções caducas tomam conta.

Ao sair de uma história tranque a porta e jogue fora o mapa da sua casa. Porque se a sorte costuma bater uma vez na vida, o acaso (leia-se o passado) é um freqüentador antigo que adora entrar sem bater.