O amor vem
até nós de diversas formas, mas nem sempre o sentimos da forma como ele chega.
As vezes parece que nada acontece em nossa vida, que ficamos congelados no
tempo, só a nossa idade avança, só o nosso relógio biológico caminha e parece
mesmo que só a vida dos outros caminha.
Aqueles
amores de verão, avassaladores, que tiram o fôlego, são carregados de momentos
oportunos cheios de declarações e de
momentos inusitos que terminam, claro, da forma mais poética possível. A vida
dos outros, como nos filmes, sempre chega até a nossa imaginação como um conto
de fadas realizado, pronto e acabado. É como se a pessoa tivesse o privilégio
de viver aquilo que a gente passa a vida sonhando.
Nos sentimos
como formiguinhas construindo um castelo que ao por do sol vai se destruir com
a chuva. No dia seguinte começamos tudo de novo, acreditando que desta vez vai
dar certo, que agora é a hora do nosso reinado, finalmente.
Passamos nossa vida amorosa assim. Tudo começa com o
primeiro romance. O primeiro amor parece ser único, você sente na pele a
atração e o entusiasmo de cada encontro. Cada encontro é como se fosse o
primeiro e o último. Cada lágrima que rola leva um pedaço de nós mesmos. É uma
paixão ingênua que se perde no tempo, como a própria ingenuidade.
Depois vamos ficando mais egocêntricas, mais cheias de si,
mais seguras do que não queremos no próximo relacionamento. Não queremos
promessas tolas, queremos príncipes encantados.
O cavalo branco não chega com o segundo príncipe. Ele tem
tantos atrativos e traz um relacionamento mais maduro que o primeiro. Mas será
ele o príncipe encantado?
Buscamos mais, queremos tudo o que o conto de fadas
prometeu. O cavalo branco, a armadura, o olhar apaixonado, as declarações em
público e em privado, os encontros e o casamento e lua de mel de realeza.
Depois, filhos fortes, saudáveis e lindos. Não cumprir este protocolo é uma
ameaça a tudo o que fomos ensinadas a acreditar.
Mas os amores vão passando. Os príncipes vão virando sapos,
as carruagens vão virando abóboras e vamos criando um jardim – entre sapos e
abóboras- de amores vazios. Vai ficando mais difícil confiar, mais difícil
se entregar, mais difícil conviver e compartilhar. O que começou com uma soma e
virou multiplicação, vira divisão e subtração.
Mas quando é que o príncipe vai chegar? O relógio vai
gritando tic tac, o seu tempo está acabando para cumprir o protocolo. Talvez
tenha que pular etapas, talvez tenha que avançar sinais. Mas e o romantismo?
Não vai se perder pelo caminho?
A busca pela perfeição vai ficando mais permissiva, vamos
aceitando alguns defeitinhos básicos, entendendo que os príncipes devem ser
assim mesmo, afinal nós princesas também também colecionamos uns defeitinhos,
nada grave aos nossos olhos. Vamos esperando por príncipes menos príncipes.
Vamos pesando cada relacionamento como se eles fossem
vazios, fossem perdas de tempo. mas se olharmos para trás vamos ver o quanto
aprendemos. A importância da ingenuidade do primeiro olhar, da conquista do
primeiro beijo, da confiança da primeira entrega, da maturidade do primeiro término,
a culpa da primeira traição, o peso da indiferença na primeira rejeição, a
imaturidade da primeira explosão emocional, o medo de perder o que parece
certo, a coragem de trocar o certo pelo duvidoso. Nossas escolhas vão nos
moldando, nos ensinando, nos tombando e levantando, vão enchendo o nosso copo e
nos dando um porre de realidade.
Será que o que estou vendo é o que parece que é? Duvidamos
de nós mesmos, então como não duvidar dos outros? Nós mesmos nos enganamos de
propósito ou sem propósito tantas vezes. Vamos nós mesmos criando também
barreiras na fabricação protocolar de nossa felicidade. Horas tentamos
burocratizar o que sentimos, prometendo para nós mesmos que desta vez não vamos
pular etapas. Será um jantar apenas, sem cama depois. Uma coisa de cada vez. O
medo de se entregar antes que o outro se entregue é o rege toda a burocracia. Será
que não nos entregamos porque não estamos prontas ou porque ele não é o certo
para nós?
Mudamos o script várias vezes, , cada vez com um
protagonista diferente. Mudamos a ordem
burocrática dos encontros, sexo antes ou só depois do casamento, antes ou só
depois do terceiro encontro. Mudamos de roupa, penteado, de guarda-roupa, de
casa, de país e as mesmas perguntas nos acompanham sempre, são perguntas
cíclicas para uma vida com episódios cíclicos. Será que estamos prontas para
ouvir nossas verdades? E o que há de novo no recorrente de nossas vidas? Nós
mesmos. Se não mudarmos tudo se repete.
É como uma vez escutei, “para me tornar quem eu quero preciso abdicar de quem
eu sou”. Um brinde a isso e aos copos vazios após a ressaca de experimentar amores
cheios.
Um comentário:
Na boa, se encontrar alguém assim manda para o psicólogo.
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