Eu sempre quis ser daquelas que fala tudo o que pensa, sem “papas na língua”. Mas definitivamente não faz meu estilo ser tão sincera a ponto de tornar público tudo o que penso. E quando fiz isso na última festa entre amigos, fiquei tão constrangida que perdi metade da festa me lamuriando de ter falado sem papas.
A sinceridade dói mais em mim que nos outros. Assim como tem chá pra tudo, devia ter um chá pra curar a dor da sinceridade.
Minha covardia se mascara de gentileza. Algo do tipo, não falo a verdade para não ofender o próximo.
E no meu caso, quanto menos próximo menos tenho a obrigação de dizer a verdade.
Desde cedo medi milimetricamente as palavras. Achava-me sábia o suficiente para perceber o erro e ficar com dó de mostrar a verdade.
Até que dei o primeiro conselho na vida. Aí virou festa!
Recomendava tudo pra todo mundo.
Dava pitaco até na vida de quem eu não conhecia.
A festa mais chata ficava engraçada quando encontrava alguém com problemas, os quais eu tentava solucionar em um segundo.
Dava conselhos, sem saber se daria certo ou não. Mas torcia.
Quando a primeira amiga chegou e disse: “você tinha razão.”... Aí me achei a rainha da cocada preta.
Me profissionalizei na arte de dar conselhos. Até pensei em fazer psicologia, pra poder desfilar por aí com um certificado embaixo do braço: “Palpiteira Oficial”.
Mas enquanto a preguiça permitia, eu me contentava com uma só faculdade.
Até que um dia me apaixonei de verdade e finalmente perdi a fala. Era o momento que eu mais esperava. Ver estrelinhas, contar segundos, comer brigadeiro chorando com um filme qualquer.
Quando vi que era recíproco, aí veio a segunda fase da paixão. Um momento único na vida. Quando você fala um turbilhão de coisas tentando fazer a pessoa entender seu modo de ser, pensar, agir... falar. Apresenta a família, o cachorro, o vizinho, os amigos, os pais dos amigos.
Uma overdose de informação. Ele fica tão zonzo que acha que é amor. (rsrsrsrs)
O terceiro momento é mais equilibrado. Curte tudo juntinho. Cinema, pipoca, teatro, pearl jam e televisão.
No quarto momento, depois do “sim”, vem o cotidiano, irmão gêmeo do dia-a-dia e primo-irmão da rotina. Ele senta na poltrona com um “bom dia” largo.
A gente vai vivendo um dia após o outro. Sorrisos, lágrimas, cansaço, sorrisos, lágrimas, cansaço, cansaço, férias e começa tudo de novo.
Até que um dia a gente volta a ter papas na língua. O seu antigo eu se recupera da overdose de conselhos e passa a selecionar os amigos e as palavras. Me passou pela cabeça que talvez isso seja maturidade. Ouvir mais, falar menos.
Não dizer o que pensa começa com o chefe. Se consolida com o tempo, cria raízes e permanece.
Quando isso acontece você só não tem papas na língua pra uma pessoa. Sua alma gêmea. Pra esse, nem precisa falar nada. Assim como o pai na infância dá bronca só com o olhar, a alma gêmea sabe exatamente o que você achou disso e daquilo sem falar. Com ele, e só com ele, nem no pensamento consigo ter papas na língua.
Um comentário:
Que lindo!
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